Eloísa Ejarque
13 DEZ - 10 JAN 2019
Texto de Mariana Fernandes
Design de Marta Gaspar
O dia em que te conheço melhor
O processo artístico é tão íntimo, tão difícil de converter em discurso verbal, que muitas vezes escapa às conversas que temos, igualmente importantes por sinal.
Ir a tua casa é muito confortável para mim, já que te aprecio tanto no rigor como na elegância e sensibilidade, e posso disfrutar de tudo isso observando-te na construção do teu lugar de abrigo.
Sentamo-nos confortavelmente em sofás distintos e começamos a conversar sobre a história deste projecto.
Nunca o outro nos pára de surpreender, emocionar, dar.
Temos tanto para mostrar, reservado em gavetas, arquivado em ficheiros digitais…
O estudo debruça-se sobre um lugar de desejo que começou por se chamar Expo’98, modelo de um estilo de vida tão sofisticado como decadente. A sua existência cénica e cínica, promocional e artificial preconizam um futuro perfeito, vendendo caro um bem-estar rigorosamente estereotipado, instigado, imposto.
Encontras neste conto de fadas da contemporaneidade um caso de rara beleza que, como em qualquer invenção da perfeição, enceta um lado profundamente perverso.
Obstinada pelas acções quotidianas do lugar, visita-lo repetidamente durante um longo período em passeios diurnos e nocturnos, sozinha ou acompanhada, com intensões bem definidas: pela manhã examina os joggers que se passeiam junto ao rio, à noite descobre as trevas de um lugar ausente e sem espírito.
Exaustivamente reúnes uma série fotográfica onde captas o momento irrepetível, necessário ao processo analógico utilizado. A película é revelada e os slides delicadamente montados, todos sem excepção. Método e rigor no cuidar o processo: as imagens são valorizadas de forma singular pois integram um pensamento materializado que deve ser respeitado.
A plasticidade da imagem fotográfica contrasta, em certa medida, com os detalhadamente projectados e executados objectos resultantes do projecto sem fim.
Assistimos juntas à projecção demorada das imagens, contra a parede branca da sala.
Inscrever na pedra
Gravar na pedra é fixar um momento, assinalar, homenagear para uma tentativa de eternidade. A escrita inscrita parece hoje menos premente: eternizar um momento é associado à captação de uma imagem, habitante de um universo virtual, que poderá ser revisitada através de um ecrã luminoso.
Qual a relação entre o ecrã e a pedra?
Inscrever na pedra um diálogo escutado durante um almoço num restaurante?
Trazer o quotidiano para o interior, amando-o, inscrevendo-o na pedra que dá nome à rua.
- Mariana Fernandes




