Redundância Cíclica
Daniel Antunes Pinheiro
28 OUT - 23 DEZ 2021
texto de Rui Gonçalves
créditos fotográficos: João Neves
Daniel Antunes Pinheiro
28 OUT - 23 DEZ 2021
texto de Rui Gonçalves
créditos fotográficos: João Neves
“Uma imagem com
parede, interior, branco”1
A premissa do algoritmo quase mimetiza a imprecisão do nosso olhar perante as obras expostas, uma construção errónea, como a “redundância cíclica” que dá título a esta mostra, um erro informático comum, que não implica impossibilidade de leitura de dados, mas da construção da lógica perante os dados apresentados, supõe-se a fragmentação ou a falha, e o erro - tentativa - erro (redundância) - tentativa (cíclica).
“And you may ask yourself: How do I work this?”2
É no engendramento das formas e do erro que as obras de Daniel Antunes Pinheiro tomam forma, (passe a redundância) - são formas anti-protótipo com uma indisposição para a função aparente, tudo remete para alguma coisa, toda a forma pressupõe um gesto, uma tensão, uma mimética - como quem brinca com despojos, como um bricoleurque por associação ou aglutinação compõe um conjunto de ferramentas sem função ou com a função corrompida, seja pela escala, ou pela singularidade da assemblagem.
DAP não leva ninguém ao engano, há uma constante selecção e depuração dos fragmentos, sejam manchas sobrepostas de folhas de jornal3, a revelação de papel fotográfico amarrotado4 ou peças de ferramentas, objectos despejados nos ecopontos, oferecidos por amigos ou encontrados na rua com o intuito de criar algo, uma imagem concreta - com uma recusa evidente do processo demiúrgico e da função narrativa ou funcional - não lhe interessa contar uma história, mas sim instigar uma leitura de correlações - a fita métrica / arco, o escudo / prato de gira-discos, o cartucho de balas / pilhas alcalinas, ou outras menos legíveis como o pedaço de pladur com o cartão dobrado ou o conjunto de envelopes interligados entre si por um qualquer método maquinal de produção - ao observador sobra a indisposição perante o inoperante, o momento da entrega da ferramenta que não sabemos operar, sem manual de instruções ou indicações precisas do que fazer com ela.
Nem tudo se prende na forma, há um carácter lúdico na criação desses objectos, tanto pela mistura anacrónica dos materiais, como na forma em que ecoam o trabalho quotidiano e uma contínua e persistente procura de segredar um ruído secreto através das formas ou do gesto. A mão e o braço como eixo primeiro para a sustentação da obra, como um ponto pivotal da ideia. Mesmo na parede, num canto ou no seu atelier, cada objecto deixa adivinhar esse ponto, entre dois dedos ou recostado na mão
- um gesto próximo de tentar equilibrar uma colher - equilíbrio, concentração e queda - erro - tentativa - erro - tentativa.
Rui Gonçalves
1Legendas geradas pela ferramenta de acessibilidade para invisuais AZURE / Microsoft. Através do machine learning o algoritmo procura criar um conjunto de palavras chave com conteúdo de uma imagem.
2Talking heads, Once in a Lifetime, Remain in Light, 1980
3Daniel Antunes Pinheiro, 00/00/00, 2010/11
4Daniel Antunes Pinheiro, Mapa para um lugar algures, 2011
A premissa do algoritmo quase mimetiza a imprecisão do nosso olhar perante as obras expostas, uma construção errónea, como a “redundância cíclica” que dá título a esta mostra, um erro informático comum, que não implica impossibilidade de leitura de dados, mas da construção da lógica perante os dados apresentados, supõe-se a fragmentação ou a falha, e o erro - tentativa - erro (redundância) - tentativa (cíclica).
“And you may ask yourself: How do I work this?”2
É no engendramento das formas e do erro que as obras de Daniel Antunes Pinheiro tomam forma, (passe a redundância) - são formas anti-protótipo com uma indisposição para a função aparente, tudo remete para alguma coisa, toda a forma pressupõe um gesto, uma tensão, uma mimética - como quem brinca com despojos, como um bricoleurque por associação ou aglutinação compõe um conjunto de ferramentas sem função ou com a função corrompida, seja pela escala, ou pela singularidade da assemblagem.
DAP não leva ninguém ao engano, há uma constante selecção e depuração dos fragmentos, sejam manchas sobrepostas de folhas de jornal3, a revelação de papel fotográfico amarrotado4 ou peças de ferramentas, objectos despejados nos ecopontos, oferecidos por amigos ou encontrados na rua com o intuito de criar algo, uma imagem concreta - com uma recusa evidente do processo demiúrgico e da função narrativa ou funcional - não lhe interessa contar uma história, mas sim instigar uma leitura de correlações - a fita métrica / arco, o escudo / prato de gira-discos, o cartucho de balas / pilhas alcalinas, ou outras menos legíveis como o pedaço de pladur com o cartão dobrado ou o conjunto de envelopes interligados entre si por um qualquer método maquinal de produção - ao observador sobra a indisposição perante o inoperante, o momento da entrega da ferramenta que não sabemos operar, sem manual de instruções ou indicações precisas do que fazer com ela.
Nem tudo se prende na forma, há um carácter lúdico na criação desses objectos, tanto pela mistura anacrónica dos materiais, como na forma em que ecoam o trabalho quotidiano e uma contínua e persistente procura de segredar um ruído secreto através das formas ou do gesto. A mão e o braço como eixo primeiro para a sustentação da obra, como um ponto pivotal da ideia. Mesmo na parede, num canto ou no seu atelier, cada objecto deixa adivinhar esse ponto, entre dois dedos ou recostado na mão
- um gesto próximo de tentar equilibrar uma colher - equilíbrio, concentração e queda - erro - tentativa - erro - tentativa.
Rui Gonçalves
1Legendas geradas pela ferramenta de acessibilidade para invisuais AZURE / Microsoft. Através do machine learning o algoritmo procura criar um conjunto de palavras chave com conteúdo de uma imagem.
2Talking heads, Once in a Lifetime, Remain in Light, 1980
3Daniel Antunes Pinheiro, 00/00/00, 2010/11
4Daniel Antunes Pinheiro, Mapa para um lugar algures, 2011




