Roda Rusga

Z. L. Darocha
18 JUL - 18 AGO 2019


curadoria de Diogo Pinto

com texto de Daniel Peres

Design de Marta Gaspar

Agradecimentos:
José Mário Brandão, Cláudia Rocha-Paris, Lia Rocha-Paris, Filipe Darocha

Darocha; da Rocha; José Luiz da Rocha [mas leia-se agora “lwi” e “dá Rochá”, à francesa]; Louis Rochas-Paris; Z. L.Darocha; Páris Couto & Darocha; J.L.R.P.C. (Oliveira de Azeméis, Portugal,1945 – Paris, França, 2016)…etc.    

Assumem-se imensas assinaturas para uma obra que é também ela feita de irrequietas declinações. E note-se que ainda não saímos das margens de uma certa ortonímia, pois muitos outros cognomes e avatares se proclamam neste acelerador de partículas: Theodorus Kinzall; Hellary Van Zelaast; Stein Steinovich; André Selacouledouz; P.E. & C.º iltd. … e mais um colossal etc.

Na obrigatoriedade da metáfora, direi que o percurso artístico do autor “dit Darocha” (de uns 50 anos de actividade) é soprar a flor de um Dente-de-leão e vê-la pulverizar-se no vento. As sementes levitam dançantes pelas mais contraditórias massas de ar, tratando o acaso por “tu”, e disseminando inseminações em polvorosa. Mas apesar de volátil, o Dente-de-leão espraiado na aragem é anarquicamente coeso na sua entropia. É desintegrado-se e circulando que se afirma mais unitário que nunca enquanto fenómeno natural (unido ao sopro que o integrou em brisas e vendavais). Daí que esta planta seja um portento silvestre e uma sedutora de habitats. É uma daninha (com propriedades medicinais, por sinal), e é justamente a sua pulsão selvática que a torna ímpar na sua capacidade de transmutação e de transformar o periclitante em motor de sementeira.

Como um Dente-de-leão, a obra metamórfica de Darocha professa valiosos ensinamentos a quem se inicia nas artes da bolina. Uma das máximas basilares versa que, por princípio, as correntes e as contra-correntes equivalem-se em grau de importância. Entenda-se, aqui, correntes e contra-correntes de maré e vento; correntes e contra-correntes artísticas. E há que reconhecê-las a partir da margem, interrogá-las, confrontá-las, navegá-las com experimentalismo, para que, em pleno vogar, se vá inventando uma bússola própria.

No final da década de 1960, Darocha sincronizou-se com um tempo de Neosem que o acantonamento em programas estéticos começava a dar laivos de obsolescência programada. Recentes conhecimentos de causa bradavam, um pouco por todos os Maios de 68 deste mundo, que muitas dessas afiliações podiam (como no fundo sempre puderam) ser vaticinadas como lateralizáveis. Não que não se escalpelizassem todas as tendências e celeumas, claro está, pois falamos de uma época em que (dizem-nos) era sadio afiar a língua nos discursos da crítica, especialmente quando (de um modo igualmente saudável) se pretendia identificar vacuidades e divergir deliberadamente delas.

Nessa conjuntura, como provavelmente também aconteceria apesar dela, Darocha lançou-se no imperativo de libertar a sua obra em spray, como um aerossol de poeira estelar. Agitou muito bem e vaporizou, vagueou, variou, derivou, destacando algo que lá esteve em permanência: um apaixonado horror ao tédio e uma declarada aversão ao dissimuladamente sério. O seu trabalho germina hoje como um consciente vulcão de pontas soltas (frise-se, mesmo muito soltas, i.e, obstinadamente desacorrentadas), cada uma delas um rastilho para uma mesma e enraizada antena. O seu sonar pesquisa amiúde pela infância circense das culturas, prospecta aquele berço de festa (mas também de tormenta) que só é revelado e celebrado pelas magnânimas pirotecnias da imaginação, pelos foguetes que rompem estratosferas só para voltar à Terra e redescobrir beleza e pasmo no quotidiano que nos absorve.

- Daniel Peres
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Ascensor

O Ascensor é um projecto expositivo da Associação Goela, organizado por Diogo Pinto e Daniel Antunes Pinheiro. Surge da vontade de preencher não só uma sala vazia na cave da sede mas também de um vazio cultural presente na atual paisagem institucional lisboeta. Situando-se precisamente no final do poço do elevador do edíficio que a sobrepõe, é uma programação colaborativa focada num repensar das altitudes hierárquicas da atenção e celebração pública, procurando no contraste cronológico uma certa atemporalidade que demonstre a maleabilidade da, por vezes, desatenção histórica. 
Associação Goela

A Goela é uma associação cultural fundada em Outubro de 2013 em Santa Apolónia. Tem como principal motivação apoiar os diversos artistas que nela residem, fomentando multiplicidades do trabalho artístico e coletivo.
Tem desenvolvido algumas parcerias com outras instituições com foco nas áreas do desenho, da escultura, da fotografia e da arte sonora.